segunda-feira, 24 de junho de 2013

COPA DO MUNDO DA FIFA 2014: FESTA PRA QUEM?


Um amigo decidiu fazer uma festa na minha casa. Isso mesmo, decidiu e apenas me comunicou. Eu até poderia ter dito não, mas como ele era meu amigo e me deu argumentos convincentes, concordei.
Primeiro ele me disse que a festa seria uma grande oportunidade para eu fazer bons contatos, já que ele traria convidados muito ilustres. Depois me falou que eu iria ganhar muito com a realização da festa e que depois que ela acabasse eu iria contar muitos benefícios que ela me traria, que a festa deixaria um legado. Sendo assim, não tinha porque dizer não.
Em seguida ele me informou que precisaria gastar um pouco para deixar minha casa mais apresentável para os convidados. Realmente minha casa estava precisando mesmo de uma boa reforma, mas eu não estava disposto a gastar com isso, tinha outras prioridades. Mas ele me convenceu a fazer uma pequena reforma e entreguei meu cartão de crédito à ele, já que o valor que me informou eu dispunha. 
Passados alguns dias começaram a chegar os materiais de construção e as pessoas que realizariam a obra. Era tanta gente que achei que a obra ficaria pronta no mesmo dia, porém ele me informou que a maioria eram pessoas técnicas que definiriam o que e como seriam feitas as coisas, mas que pedreiros mesmo eram apenas uns poucos. Eu nem vi o projeto e eles começaram a realizar as obras. 
Depois de alguns meses minha casa havia ganho um lindo jardim com belas flores exóticas, uma fonte luminosa e piscina com uma cascata. E trocaram a fachada por uma muito bela mesmo. Logo a fachada que nunca havia me incomodado. Na verdade eu precisava mesmo era arrumar o banheiro que sempre entupia e exalava mau cheiro por toda a casa, trocar os azulejos da cozinha que estavam muito feios e engordurados, o sofá da sala que estava rasgado, minha cama quebrada, arrumar o telhado que contava com muitas goteiras. Fizeram também uma garagem para vários carros sendo que eu nem carro tenho. Durante as obras vi várias pessoas vindo dar opiniões de como queriam as coisas e alguns se mostraram até insatisfeitos com o andamento das obras. Percebi que tinham sotaques estranhos. Um dia perguntei aos pedreiros quando iniciariam as obras no restante da casa e me disseram que aquilo era tudo o que tinham para fazer e que seu trabalho estava encerrado em minha casa. Nesse mesmo dia recebi a fatura do meu cartão de crédito e quase tive uma síncope ao ver o valor da conta a pagar. Era quatro vezes mais do que meu amigo havia me falado e com aquele valor dava para ter feito uma nova casa para eu habitar. Não me pareceu que todo aquele dinheiro havia sido empregado ali. Apavorado fui procurar meu amigo, que com aquela conversa mansa de sempre me disse para não me preocupar, que o dinheiro seria todo reembolsado por ocasião da festa e que eu iria ainda lucrar com aquilo. Que havia sido apenas um empréstimo. Fiquei desconfiado e resignado mas aceitei o argumento do meu amigo.
Finalmente chegou o grande dia da festa, que seria no jardim. Naquele dia meu amigo me chamou de lado e me disse que as pessoas que viriam eram muito importantes, muito elegantes e que eu era muito simples, não tinha roupas adequadas para a ocasião e que não me sentiria bem no meio deles. Disse que eu poderia ficar do lado de dentro da nova fachada e acompanhar a festa pela janela que com certeza eu iria me divertir muito mais. Concordei e assim foi. Fiquei ali na janela vendo aquelas pessoas chegando com seus carrões, estacionando na minha nova garagem(que eu nem sabia o que iria fazer com ela depois da festa), admirando a fonte luminosa, a piscina com cascata e as lindas flores exóticas. Também ouvi pessoas elogiando minha casa(só a fachada, claro, que era só o que eles conseguiam ver). A festa estava muito animada, pessoas bonitas dançando, comendo e bebendo do bom e do melhor. Tinha saquê, vinhos italianos, portugueses, argentinos e chilenos. Uísques de todas as idades com rótulos de todas as cores, muito champagne, chás e cerveja, muita cerveja, mas servidas em copos de plástico(não entendi bem isso). Ah, e uma coisa que todos queriam experimentar era a caipirinha. Comeram muito bem e exigiram também feijoada. Eram pessoas bem excêntricas mesmo.
Terminada a festa todos foram embora, inclusive o meu amigo que não me apresentou a ninguém e nem obrigado veio me falar. Fui dormir e na manhã seguinte fui até o jardim, olhei em volta e vi o que sobrou da festa para mim: um caminhão de sujeira para remover, um jardim pisoteado e uma sensação estranha de que algo estava errado. Imediatamente procurei o meu amigo e lhe perguntei onde estavam os benefícios da festa para mim, quando eu os veria? Ele simplesmente me disse que aquilo era tudo. Que agora eu podia falar pra todo mundo que realizei uma festa para tais e tais pessoas importantes em minha nova e linda casa e todos ficariam maravilhados. Que os jornais iriam noticiar como eu havia feito uma linda festa e como era lindo o meu jardim. Isso por si já era um grande benefício. Esse era o legado que a festa me deixaria. Mas e a conta, como fica? Perguntei. E ouvi dos lábios do meu amigo que a conta eu deveria pagar, afinal, minha casa estava linda, eu tinha o mais belo jardim do bairro, uma garagem enorme, todos os meus vizinhos iriam sentir inveja de mim e se eu gastasse mais um pouco poderia reformá-la por completo. Foi embora e me deixou falando sozinho.
Olhei para minha casa e senti raiva de mim. Agora eu tinha um jardim com flores exóticas, uma piscina com cascata e uma fonte luminosa que só me dariam despesas que eu não conseguiria arcar. Uma garagem enorme para vários carros e eu sem carro nenhum. Uma bela fachada mas que ao passar pela porta já sentia o fedor do meu banheiro entupido, via meu sofá rasgado, a cama quebrada, a sujeira das paredes da minha cozinha e as poças d'água formadas pelas enormes goteiras do meu telhado. Ah, que raiva de mim por ter concordado com a festa que nem mesmo participei, só vi pela janela e ainda fiquei com uma enorme conta para pagar e minha casa continuou precisando de uma reforma geral. Ah, como fui burro!
E o meu amigo? Esse se foi sem me dar nenhuma satisfação. 
Pois é. Sabe quem é esse amigo? O governo. Sabe o que é a minha casa? O Brasil. Sabe quem sou eu? O brasileiro. Sabe que festa é essa? A Copa do Mundo da Fifa. Sabe aquela janela? É a tv. Sabe pra quem foi a festa? Eu não sei, só sei que não foi pra mim. Foi pra você?

Esta parábola é um questionamento que eu acredito que todo brasileiro deveria fazer: a quem interessa essa Copa de 2014 no Brasil?

segunda-feira, 29 de abril de 2013

ÀS VEZES LEÃO, ÀS VEZES CORDEIRO: A AMBIGUIDADE DO POVO BRASILEIRO



O brasileiro tem a fama de ser um povo que passou e passa por muitas dificuldades, mas que não foge à luta. Um povo que trabalha muito para pagar as contas no fim do mês. Um povo que em sua maioria não tem uma casa decente para morar, nem uma escola decente para estudar, nem um transporte decente para se locomover, nem um salário compatível com suas despesas, mas que aceita sediar uma copa do mundo de futebol e satisfazer as exigências da FIFA quanto a construir novos e confortáveis estádios, mesmo em cidades que não tem tradição no futebol, nem grandes clubes e muito menos grandes torcidas para desfrutarem depois do evento que durará apenas um mês.  Bilhões serão gastos e milhões serão certamente desviados pela corrupção que assola nosso país, mesmo assim o brasileiro é um povo alegre, pacífico, ordeiro. 
O brasileiro não gosta de guerras. Rivalidade com outros países só no futebol, que aliás parece ser um dos únicos interesses reais deste povo além da luta diária pela sobrevivência. O brasileiro não tem inimigos externos, o maior inimigo do brasileiro é o próprio brasileiro. O brasileiro é um lutador por natureza, mas um lutador solitário, que luta individualmente pela sua sobrevivência, que não se alia, que não sabe se unir em prol de causas coletivas que lhe trariam também benefícios individuais, que não se organiza e por isso não tem força para vencer seu inimigo interno mais feroz, o corrupto.
O brasileiro, a exemplo do cordeiro, morre em silêncio. E vive em silêncio também. Cala-se diante de todos os desmandos de seus representantes oficiais, os políticos. Assiste a tudo sem contestar, sem protestar, sem reivindicar. O Brasil deixou de ser colônia para ser uma república. Passou pela ditadura de Getúlio, depois por um breve período de democracia, depois a ditadura militar e novamente voltou a democracia, tudo isso em pouco menos de um século. Muitas mudanças radicais no poder em pouco tempo, porém o povo brasileiro passou por tudo isso sem grandes mudanças comportamentais. Saiu um regime, entrou outro e o brasileiro continuou vivendo sua vida pacata, trabalhando como um leão e aceitando tudo como um cordeiro e parece que isso nunca irá mudar. Apenas umas poucas vozes quase solitárias ecoam, mas não se conseguem fazer ouvir pela grande massa. Estamos vivendo um momento muito conturbado no que diz respeito a segurança pública. A crescente onda de violência no país, principalmente com a participação de adolescentes menores de 18 anos, e portanto, protegidos por uma legislação paternalista e frouxa, tem incomodado quase todos os brasileiros, tanto que uma pesquisa recente indicou que 93% da população é a favor da diminuição da maioridade penal de 18 para 16 anos. Apesar de estar cansado de ver um menor com 16 anos que comete crimes hediondos e vai para a detenção rindo da cara da polícia e da sociedade por saber que a lei lhe dá o direito de se tornar bandido sem que seja punido como deveria, e que em pouquíssimo tempo estará nas ruas novamente cometendo os mesmos crimes ou ainda piores, o brasileiro mesmo assim aceita calado e espera por uma atitude de seus governantes, que não tomam nenhuma. Entra ano, sai ano, vem uma eleição após outra e os corruptos continuam no poder legislando em causa própria e engordando suas contas bancárias em paraísos fiscais e seu patrimônio em nome de laranjas. A maioria dos brasileiros nem se lembra em quem votou na esfera do legislativo estadual e federal, quanto mais saber se seus representantes estão ou não fazendo o que deveriam ou se estão envolvidos em maracutaias e corrupção. E assim a vida segue, geração após geração com o brasileiro trabalhando como um leão e aceitando tudo como um cordeiro. 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

SEJA FELIZ EM 2013


Um novo ano começou. A vontade é de fazer tudo novo, mas não dá. A vida tem que continuar como sempre e a continuidade das coisas se faz necessária. Mas é possível renovar atitudes, comportamentos, pensamentos, conceitos. É possível despojar-nos das coisas que nos atrapalham, que nos puxam para baixo, que impedem o nosso desenvolvimento em todas as áreas da vida. Não há como agradar a todos nem como agradar a si mesmo o tempo todo, portanto, o ideal é encontrar o equilíbrio, ser mais tolerante como os outros e menos egoísta, jamais humilhar a ninguém nem deixar-nos humilhar. Quando certos, ser firmes, quando errados, reconhecer e desculpar-nos. Uma das maiores virtudes é saber ser rígido com os nossos princípios mas flexível com o restante. Não existe receita para ser feliz. Talvez porque a felicidade seja mutável e não seja feita sempre com os mesmos ingredientes. Ainda bem, porque nós também o somos. Nosso ser está em constante mudança durante nossa vida. A felicidade também é nômade e não adianta procurá-la num determinado lugar pois ela está sempre se movimentando, por isso é que a encontramos muitas vezes durante nossa existência. Que bom, porque assim faz com que nos movimentemos também enquanto a buscamos e durante a busca encontremos pessoas, lugares, coisas e acontecimentos que nos fazem sentir vivos. O homem que deixa de buscar a felicidade, deixa de viver. Isso foi propositalmente planejado por Deus, que é a fonte da verdadeira felicidade.
Que em 2013 você seja muito feliz!